Qualquer cidadão brasileiro de mínima consciência política e social reconhece os avanços porque passou a saúde pública no Brasil, nos últimos anos, com o advento do SUS (Sistema Único de Saúde). Para ser preciso, são vinte e cinco anos (1989 a 2014) de efetiva mudança de paradigma de uma política de saúde exclusivista e curativista que não nos causa a menor melancolia. Não me arrisco dizer, entretanto, que a política de saúde que vigorava até então era equivocada porque trata-se de um modelo: e um modelo é representativo da percepção hegemônica de um coletivo social.
O fato é que o/a cidadão/cidadã que hoje está com pelo menos 35 anos de idade deve ter alguma lembrança de como era o atendimento à saúde, se voltarmos no tempo para os anos da década de 1980. Para começar, não era atendimento à saúde, e sim à doença! Toda a concepção do sistema vigente à época estava de alguma forma preparada para atender queixas clínicas, ou seja, pessoas doentes. A perspectiva da ação preventiva era praticamente nula.
Mesmo assim, felizes eram os privilegiados que tinham direito a esse serviço público. Isso mesmo! O serviço não era para todos! O serviço era público, mas só podia acessá-lo quem tinha emprego formal, ou seja, quem tinha carteira de trabalho assinada, pois contribuíam compulsoriamente. As pessoas que viviam do mercado informal e os desempregados eram como se fossem cidadãos de segunda categoria, pois não tinham acesso a esse sistema. O que equivale dizer que aproximadamente 30% (trinta por cento) da população brasileira não tinha acesso ao Sistema Público de Saúde. Se utilizassem, seria na condição de indigente.
Nessa situação em que o poder público praticamente se desresponsabilizava pela saúde do cidadão, o terreno era propício à corrupção: o governo pagava por serviços que não eram prestados; empresas eram constituídas da noite para o dia com o único objetivo de prestar serviço ao Governo Federal.
Imaginem o absurdo: de forma legal, o dinheiro público financiava – a fundo perdido – a construção de clínicas e hospitais privados e com garantia de compra de serviço pelo Estado. Uma verdadeira “mina de ouro” para alguns afiliados e bem relacionados com o poder. Alguns conglomerados do segmento da saúde se organizaram a partir dessa “ajudinha” do governo.
Mas é claro que essa situação – bastante confortável para poucos privilegiados – indignava alguns segmentos sociais como estudantes, intelectuais e até mesmo os trabalhadores. Nos bastidores do poder, esses segmentos teorizavam e ensaiavam de forma articulada o que seria ideal para a sociedade brasileira em termos de sistema de saúde pública. O SUS gestava inspirado, principalmente, no modelo Canadense, mas ganhava a cara da sociedade brasileira.
Podemos dizer que o parto do SUS foi a VIII Conferência Nacional de Saúde. Discussões importantes tiveram eco nesse evento e foram referendadas na Assembleia Nacional Constituinte, passando a fazer parte do novo texto constitucional que foi promulgado em 1988, cujo principal destacamos: “A saúde como direito de todos e dever do Estado”.
Podemos dizer que o parto do SUS foi a VIII Conferência Nacional de Saúde. Discussões importantes tiveram eco nesse evento e foram referendadas na Assembleia Nacional Constituinte, passando a fazer parte do novo texto constitucional que foi promulgado em 1988, cujo principal destacamos: “A saúde como direito de todos e dever do Estado”.
A partir da promulgação da Constituição de 1988 tem inicio uma nova luta que já dura vinte e cinco anos e não sabemos, exatamente, se essa luta terá fim! É a luta pela consolidação do SUS como o sistema de saúde aceito, querido e respeitado pela sociedade brasileira. Um sistema que traz na sua essência a unidade, quando não admite a divisão da sociedade em cidadãos de primeira e de segunda categoria. Um sistema que prega a promoção da saúde através da universalização da atenção. Um sistema que aposta na saúde como qualidade de vida e que por isso valoriza a abordagem preventiva, sem perder de vista o enfoque curativo.
O blog "Observatório do SUS" nasce com a pretensão de ser mais uma entre as várias trincheiras que se levantam em defesa desse sistema público de saúde, na expectativa de vê-lo um dia consolidado e copiado pelas nações que pregam o ideal de justiça e paz social.
O blog "Observatório do SUS" nasce com a pretensão de ser mais uma entre as várias trincheiras que se levantam em defesa desse sistema público de saúde, na expectativa de vê-lo um dia consolidado e copiado pelas nações que pregam o ideal de justiça e paz social.